quarta-feira, 12 de abril de 2017

Os rios precisam de árvores, afirma ministro


O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, abriu, na tarde desta terça-feira (11/04), em Brasília, debate sobre o desafio hídrico e os preparativos para o 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em Brasília em 2018. O evento foi promovido pelo jornal Correio Braziliense. Em sua fala, o ministro destacou a importância das florestas para a preservação de bacias, rios e nascentes.
“As florestas são responsáveis por maior evaporação e permeabilidade do solo, aumentando as precipitações e alimentando os lençóis freáticos. Por isso, ações de recomposição da cobertura vegetal merecem destaque no combate à crise hídrica. A proteção das nascentes e beiras de cursos d’água é fundamental para a revitalização dos rios”, ressaltou.
Segundo Sarney Filho, essa pauta é prioridade na sua gestão. “Os rios precisam de árvores”, frisou. “No caso da revitalização do rio São Francisco, por exemplo, se não investirmos em plantio nas margens e nas nascentes, no futuro teremos um riacho São Francisco e não mais um rio”, alertou.
Sarney Filho convidou os presentes a participar do 8º Fórum Mundial da Água, maior evento global sobre o tema, que acontece em Brasília de 18 a 23 de março de 2018 e conta com o apoio do MMA, da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Governo do Distrito Federal na organização.
“Acredito que um evento desse porte, no momento que vivemos, de crise hídrica em várias regiões do país, com muitas cidades, inclusive esta capital, sofrendo com o racionamento, motivará a sociedade a questionar nossas legislações, políticas, modelos de gestão e padrões de consumo”, disse o ministro. Para ele, é significativo que o fórum aconteça em Brasília, no coração do Cerrado, berço das águas do país e bioma ameaçado pelo desmatamento.
O 8º Fórum traz uma novidade: a plataforma online Sua Voz, que está recebendo contribuições de pessoas do mundo todo, desde fevereiro, em torno de seis diferentes temas – clima, desenvolvimento, ecossistemas, finanças, pessoas e urbano. O tema principal do evento, em 2018, será “Compartilhando Água”.
As edições anteriores aconteceram em Marrakech, no Marrocos (1997); Haia, na Holanda (2000); Quioto, Shiga e Osaka, no Japão (2003); Cidade do México, no México (2006); Istambul, na Turquia (2009); Marselha, na França (2012); e Daegu e Gyeongbuk, na Coreia do Sul (2015). (Fonte: MMA)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Brasil tem maior diversidade de árvores do planeta, diz estudo inédito


O Brasil é o país com a maior biodiversidade de árvores do mundo, aponta um levantamento inédito.
Há 8.715 espécies de árvores no território brasileiro, 14% das 60.065 que existem no planeta. Em segundo na lista vem a Colômbia, com 5.776 espécies, e a Indonésia, com 5.142.
Publicado no periódico Journal of Sustainable Forestry, o estudo foi realizado pela Botanical Gardens Conservation International (BGCI na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos, com base nos dados de sua rede de 500 jardins botânicos ao redor do mundo.
A expectativa é que a lista, elaborada a partir de 375,5 mil registros e ao longo de dois anos, seja usada para identificar espécies raras e ameaçadas e prevenir sua extinção.
Ameaça – A pesquisa mostrou que mais da metade das espécies (58%) são encontradas em apenas um país, ou seja, há países que abrigam com exclusividade, certas espécies – podem ser centenas ou milhares -, o que indica que estão vulneráveis ao desmatamento gerado por atividade humana e pelo impacto de eventos climáticos extremos.
Trezentas espécies foram consideradas seriamente ameaçadas, por terem menos de 50 exemplares na natureza.
Também foi identificado que, com exceção dos polos, onde não há árvores, a região próxima do Ártico na América do Norte tem o menor número de espécies, com menos de 1,4 mil.
O secretário-geral da BGCI, Paul Smit, disse que não era possível estimar com precisão o número de árvores existentes no mundo até agora porque os dados acabam de ser digitalizados.
“Estamos em uma posição privilegiada, porque temos 500 instituições botânicas entre nossos membros, e muitos dos dados não estão disponíveis ao público”, afirma.
“A digitalização destes dados é o auge de séculos de trabalho.”
Uma parte importante do estudo foi estabelecer referências e coordenadas geográficas para as espécies de árvores, o que permite a conservacionistas localizá-las, explica Smith.
“Obter informações sobre a localização dessas espécies, como os países em que elas existem, é chave para sua conservação”, diz o especialista.
“Isso é muito útil para determinar quais devemos priorizar em nossas ações e quais demandam avaliações sobre a situação em que se encontram.”
Conservação – Entre as espécies em extinção identificadas pela BGCI está a Karoma gigas, nativa em uma região remota da Tanzânia. No fim de 2016, uma equipe de cientistas encontrou apenas um único conjunto formado por seis exemplares.
Eles recrutaram habitantes da área para proteger essas árvores e monitorá-las para que sejam alertados caso produzam sementes.
Assim, as sementes poderão serão levadas para jardins botânicos da Tanzânia, o que abre caminho para sejam reintroduzidas na natureza depois.
A BGCI diz esperar que o número de árvores da lista cresça, já que cerca de 2 mil novas plantas são descritas todos os anos.
A GlobalTreeSearch, uma base de dados online criada a partir do levantamento, será atualizada toda vez que uma nova espécie for descoberta. (Fonte: G1)

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Da autorização do corte de araucárias velhas isoladas e em pinheirais nativos


Por: Prof. Dr. Alvaro Boson de Castro Faria
Perícias e Proteção Florestal / UTFPR-DV
Em janeiro deste ano, a Portaria IAP n. 10/2017 prorrogou novamente a suspensão das normativas paranaenses que regulamentavam o corte e aproveitamento de material lenhoso senil, desvitalizado e seco de árvores nativas. O aproveitamento de árvores isoladas também foi suspenso. Esta decisão foi tomada acatando o interesse do Ministério Público Estadual, que vê com preocupação a degradação da Mata Atlântica, bioma especialmente protegido pela legislação.
A questão das árvores nativas velhas, em ambiente natural ou isoladas é instigante, me fez pensar em escrever sobre outros aspectos que contribuiriam com o debate. Vou tomar a liberdade para escrever poucas reflexões sobre o caso dos pinheirais nativos e as araucárias velhas e senis.
As percepções que vou apresentar tem o intuito de provocar uma análise pelo enfoque da área de conhecimento científico intitulada Proteção Florestal, pelo CNPq. Em escolas de engenharia florestal de outros países, esta área é denominada como Forest Health Protection.
O adjetivo health, não foi à toa inserido nesta nomenclatura, adotada pelo Serviço Florestal americano. A silvicultura de espécies nativas, que para eles é simbolizada pelo manejo das coníferas em Florestas Públicas, já reconhece há muito tempo que as plantas precisam estar saudáveis para não serem atacadas por insetos e doenças.
Trata-se do conhecido conceito de Bem Estar. Mas, não se pretende politizar o assunto, pois nas áreas das ciências econômicas o termo bem-estar pode ser associado ao welfare state, bem estar social. A ideia aqui é falar de bem estar humano, animal, e ressaltar que também vale para o reino vegetal.
Se uma pessoa precisa cuidar do corpo, mente e espírito para não adoecer, para os animais o desenvolvimento tecnológico vai ao mesmo sentido, quando se fala em sistemas integrados de produção, onde as árvores cultivadas fornecem sombra para os animais, contribuindo com outros serviços ambientais, e favorecendo a sustentabilidade.
E para as plantas idem.
A sociedade de forma geral reconhece a importância do Bem Estar vegetal na forma das certificações, que nada mais tratam da questão da QUALIDADE de um manejo florestal, aquele que utilize boas práticas, diminuído a competição entre árvores por água, luz e nutrientes. Regimes de podas e desbastes para tanto. Uso de remédios (agroquímicos) só em última alternativa, pois estaria demonstrando que o manejo não vai bem.
Cientificamente, o bem estar vegetal já foi demonstrado por muitos pesquisadores. Destacam-se os trabalhos do Dr. Francis Chaboussou da “Embrapa” francesa, que escreveu sobre adotando o termo “teoria da trofobiose” desde a década de 1960, abrindo o campo da agroecologia.
É fácil entender. Insetos e microrganismos consomem material orgânico das plantas. Se as cadeias de carboidratos das árvores estiverem resistentes, estes animais terão maior dificuldade de quebrá-las para alimentarem-se. E como são espertos, escolhem os indivíduos menos resistentes para deles, buscar alimentação. Pelo prisma do bem-estar vegetal, as pragas e doenças não passam de bioindicadores!
Exemplos são diversos. O manejo integrado da vespa da madeira vale-se da estratégia de uso de árvores armadilhas, estressadas intencionalmente com herbicidas, para chamarem estes insetos se estiverem na área, e caso isso ocorra, o método biológico será utilizado para combater esta praga.
Ao falar de pragas nativas, a teoria da trofobiose tem efeito inverso no caso das formigas cortadeiras. Como elas “caçam” plantas para fornecerem material vegetal para o fungo basidiomiceto que cultivam dentro dos formigueiros, há indícios que elas sabem selecionar as plantas sadias, cujas folhas apresentam mais nutrientes, para as atacarem. No caso de lagartas desfolhadoras, também preferem as folhas novas.
Quero chegar ao ponto abordado na peça do Ministério Público Estadual, que levanta a hipótese na qual as araucárias que estão senis, não poderiam ser manejadas, com planos autorizados pelos órgãos ambientais. Tal afirmação é totalmente despropositada, considerando a teoria da trofobiose e a defesa do Bem-Estar Vegetal das árvores do presente e futuro.
Segundo a opinião do MP, o estágio de podridão das árvores, no momento em que cessa a atividade fisiológica do pinheiro, seria o ponto de inflexão que mostraria que uma árvore estaria morta, e que até este ponto não poderia ser autorizado nenhuma intervenção humana para o manejo florestal. O Ministério Público desta forma, enseja defender a vida vegetal como se fosse a vida humana, esta que é uma garantia fundamental pela Carta Magna. Porém, a análise deveria ser considerando a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme explicitado pelo artigo 225.
De fato a podridão em árvores velhas é um sinal de ataque de fungos. Por que eles escolheriam estas árvores? Ao acaso? Obviamente que não. A análise pelo prisma científico é, porque estes indivíduos, pela senilidade, ou por dificuldades do meio físico, não estariam mais conseguindo realizarem suas trocas. Uma análise fitossanitária que os identificasse na floresta – através de inventários e planos de manejo – poderia ser utilizada para favorecer o bem estar do pinheiral, no momento em que o corte destes indivíduos estaria contribuindo para diminuir a concorrência com as árvores saudáveis.
Para não me estender muito, gostaria de lembrar um exemplo interessante que poderia ser utilizado para diagnosticar as árvores estressadas dos pinheirais, e que estariam em fase de declínio de desenvolvimento fisiológico.
Citam-se diversos estudos na área de Proteção Florestal com os besouros escolitídeos. Estes insetos são conhecidos por conseguirem identificar substâncias químicas exaladas pelas árvores, e as colonizam, cultivando fungos e fazendo galerias nos troncos ainda em pé. Os escolitídeos já foram verificados atacando as araucárias. A hipótese é que seriam bons indicadores para a seleção das árvores a serem desbastadas dos pinheirais, também conhecidas como “árvores do passado”, parafraseando o prof. Rudi Seitz (in memorian).
Implicações no manejo florestal utilizando a teoria da trofobiose levam a crer que um novo paradigma deva ser utilizado. Pinheirais nativos não possuem compromisso de atender critérios de certificações. Mas a consciência aqui, para que o manejo florestal sustentável seja adotado, deve partir da consciência de quem representa a sociedade em defesa do meio ambiente, ou seja, dos órgãos ambientais, e também do Ministério Público. Não se trata de criticar quem quer fazer manejo de nativas, e sim, de exigir e apresentar regulamentações que garantam a preservação (e conservação) da espécie, com base na garantia do BEM ESTAR DESTES ECOSSISTEMAS.
Fonte: Portal AmbienteBrasil