A presença do Brasil na Antártida não é novidade. A atual operação é a 31° investida oficial no continente – a primeira após o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, há um ano. Desta vez, porém, a atividade mais visada não é a pesquisa científica. Desde novembro, a maior Operação Antártica (Operantar) da história enfrenta ambiente inóspito para remover os escombros deixados pelo incêndio que destruiu a Estação Comandante Ferraz (EACF) e vitimou dois militares no dia 25 de fevereiro do ano passado. São 800 toneladas de escombros que precisam retornar ao Brasil até o fim de março. Os módulos emergenciais, já instalados, atendem aos pesquisadores e militares até que a nova estação seja erigida. O edital para o projeto da reconstrução foi lançado no mês passado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil e pela Marinha.
Devido ao clima adverso, a tarefa de reconstrução se transforma em uma corrida contra o tempo. Somente quatro meses do ano podem ser aproveitados, no verão antártico, já que, no inverno, o mar congela e impede a circulação dos navios. Assim, em junho de 2012, o governo brasileiro contratou, por R$ 2,3 milhões, empresa que auxilia na limpeza da área. Todos os detritos precisam ser removidos. Os trabalhos começaram em novembro do ano passado, no início da Operantar XXXI.
Um documento apresentado na 23ª Reunião de Administradores de Programas Antárticos Latino-Americanos delineia parte do cenário antártico: “Você já ouviu falar em nuvens rotoras, ventos catabáticos, céu d’água, blanqueios? Pois todos esses são fenômenos atmosféricos que se encontram e se misturam na Antártida. Em nenhum outro lugar no mundo a meteorologia aeronáutica é tão importante e diversificada quanto nesse continente. Toda essa diversidade exige dos pilotos do 1º Esquadrão do 1º Grupo de Transporte Aéreo, Esquadrão Gordo da Força Aérea Brasileira, que voam na Antártida, muito treinamento e perícia, pois nunca se sabe o que se pode encontrar do outro lado de uma geleira”. O documento diz ainda que a Antártida, cuja área equivale à soma dos territórios de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Bolívia, é recoberta pelo maior manto de gelo do mundo, uma capa de espessura média de 2,7 mil metros – o que corresponde a 90% da água de todo o planeta. O mais frio dos continentes tem temperatura mínima, no inverno, de 75°C negativos.
Mesmo assim, pouco a pouco, o terreno na Península Keller, no interior da Baía do Almirantado, Ilha Rei George, é liberado. A destruição de cerca de 2.500m² de área construída acarretou uma grande quantidade de escombros – metal, cinzas, concreto e outros -, cuja retirada exige diversos cuidados ambientais e logísticos. Mas a parte mais complicada do processo de remoções, segundo o Contra-Almirante José Roberto Bueno Júnior, já foi superada. O projeto de desmonte da Estação Antártica Comandante Ferraz incluiu controle da área, supervisão e controle ambiental, além de segurança do trabalho. “O desmonte desenvolve-se num ritmo mais rápido do que o planejado. Apesar das condições climatológicas na Antártida, frequentemente adversas, o cronograma do projeto vem sendo cumprido, e a conclusão da etapa de desmontagem está prevista para abril deste ano”, comemora.
Edital – No dia 28 de janeiro, a Marinha do Brasil e o Instituto de Arquitetos do Brasil lançaram edital de licitação para o projeto de reconstrução da estação científica. O prazo de inscrição é até 14 de março. Somente os tanques de combustíveis não farão parte da reconstrução. A nova estação terá capacidade para abrigar 64 pessoas no verão e 34 no inverno. Segundo a Marinha, o novo projeto deve prever um sistema que possibilite escape fácil em situações de emergência, segurança das operações de combate a incêndio e minimização de danos. Também como forma de prevenção, os ambientes serão separados em blocos. Outro objetivo é a integração entre combustíveis renováveis e fósseis. A Marinha pretende utilizar mão de obra nacional, com auxílio da experiência e tecnologia de outros países.
De acordo com Bueno Júnior, a preocupação com segurança constará desde a fase inicial do projeto arquitetônico. “Os materiais não combustíveis também são muito utilizados em estações antárticas e a separação dos ambientes em blocos pode auxiliar o combate a incêndios. Um dos objetivos do Grupo Base da estação, operários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) e militares da MB, é atuar na prevenção contra incêndio e na salvaguarda da vida humana”, garante.
As obras da nova estação devem ter início em novembro de 2013, na próxima Operação Antártica. Mas sua conclusão pode demorar até cinco anos, dependendo do andamento dos trabalhos, já que elas só podem ser executadas durante o verão. (Fonte: Terra)