quarta-feira, 24 de abril de 2013

Velejador Amyr Klink diz que Brasil explora pouco o mar


Conhecer o frio para desfrutar do calor; sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. As frases do velejador Amyr Klink revelam a alma aventureira e paradoxal de um navegador que não teme desafiar a natureza. Com a experiência de quem percorreu os cinco continentes, em cerca de 40 expedições, ele alerta para uma situação que também considera contraditória.
“O Brasil tem muito mar, mas não gosta tanto do mar e não lhe dá muito valor. Temos muitos rios, um mar doce incrível, mas os exploramos muito pouco”, disse ele.
O velejador, dedicado à causa da preservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, destacou que, ao privilegiar a lógica do transporte rodoviário, o país “destruiu as vias navegáveis que tínhamos, como as da Baixada Santista e do Rio de Janeiro, construindo estradas”.
Ao falar de seus novos projetos, ele informou que está desenvolvendo uma embarcação mais eficiente, que terá capacidade para fazer resgate de longo alcance. “O ano passado foi um ano ruim, de acidentes, e ninguém tem resgate próprio. Os barcos de resgate no conceito convencional, que se pratica nos Estados Unidos, na Alemanha, na Suécia, não têm autonomia para fazer resgate da América do Sul até a Antártica”, disse.
“Procuramos o estaleiro mais importante no mundo e eles não conseguiram [desenvolver a embarcação], então decidimos tocar o projeto. Trata-se de uma embarcação pequena, uma lancha de resgate, mas com autonomia para viagens internacionais. Vamos testar no fim do ano e espero que funcione”, acrescentou.
Ele informou que, em seguida, a expectativa é levar a lancha de resgate para a Amazônia e para os Estados Unidos, onde pretende navegar pela Intracoastal Waterway – a maior via navegável interior do mundo. “Com isso, pretendemos mostrar aos brasileiros o quanto a gente desperdiça e inutiliza nossas vias navegáveis naturais, ao construirmos pontes rodoviárias baixas”, disse.
Natural de São Paulo e filho de pai libanês e mãe sueca, Amyr Klink ganhou notoriedade por suas longas expedições marítimas, que realiza na maioria das vezes de forma solitária. Também é autor de vários livros em que relata as experiências e os desafios enfrentados em suas empreitadas em alto mar. Entre eles estão Mar sem Fim, As Janelas do Paratii e Cem Dias Entre o Céu e o Mar.
Neste último, ele relata sua primeira aventura – na qual atravessou o Atlântico Sul em um barco a remo – e um episódio em que ele conseguiu ter notícias do Brasil por meio da Rádio Nacional da Amazônia. (Fonte: Agência Brasil)